quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Jo Rowling existiu.

VIra e mexe estou lendo o próprio ou sobre Shakespeare. Costumo citar Vinícius para falar destas coisas que me perseguem desde a mais terna adolescência: lê-lo é uma paixão permanente nesta minha vida de constante exilada.

Talvez por isso, quando me senti o mais apartada possível de qualquer vida sã, trabalhando até 12 horas por dia no marketing da extinta Global Telecom, eu decidi colar uma citação de Sonhos de Uma Noite de Verão no MDF da minha baia:

“Somos da matéria de que os sonhos são feitos e nossa breve vida é circundada pelo sono.”

Vai desta minha permanente paixão que criei olhos atentos para ler o nome Shakespeare em qualquer livro num parede forrada nas Fnacs da vida e topei com dois, que comprei imediatamente: 1599, Um Ano na Vida de Shakespeare, de James Shapiro, e O Cânone Ocidental, de Harold Bloom.

Como estou afastada das bancadas acadêmicas desde que saí diplomada bacharel em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas em 1995, fiquei admirada das questões que se punham à leitura de Shakespeare.

Em primeiro lugar, eu nem sabia que duvidavam de sua existência. Que a sua biografia fosse precária, eu sabia. Mas, para mim, Shakespeare é Shakespeare e depois de vê-lo nos longos cílios de Joseph Fiennes em Shakespeare Apaixonado, nunca nem mais me lembrei dos retratos que o pintaram feioso e ele se tornou vivinho da Silva.

Então fiquei chocada ao perceber que duvidavam da sua existência porque não compreendiam como uma Inglaterra elisabetana poderia ter criado um gênio tão atemporal, ou porque o feminismo, ou o marxismo ou o neo-historicismo tentavam soterrá-lo a favor de necessidades mais temporâneas.

Assombrada de que quisessem usurpar-lhe o amor que lhe devoto, gelei ao pensar que meu outro objeto de devoção inglês um dia poderá ser questionado da mesma forma: num futuro distante, talvez daqui 300 ou 400 anos, olharão para trás e suporão que nunca houve uma Jo Rowling.

Não quero aqui comparar talentos. Uno Shakespeare e Jo Rowling apenas porque os amo igualmente. Não estudei Letras: sou linguista. E não fiz carreira na academia, mas no marketing. Uno-os, portanto. É minha licença poética.

Então, para que não haja dúvidas, alardeio ao porvir: Jo Rowling existiu e foi ela mesmo quem escreveu Harry Potter. Não foi seu marido, não foi seu inimigo, não foram seus editores, não foi nem sequer um homem sob pseudônimo: foi ela mesma, mulher, loira, genial, divorciada e casada novamente. Ela existiu e seus milhões de fãs se espalham, como outrora, por todo o globo.

Indeed!

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