quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

TOP 3 das inovações mercadológicas.

O mercado está muito pouco criativo para aumentar a lucratividade.

Aqui estão algumas listas TOP 3 de inovações que podem fazer explodir as vendas em alguns segmentos. Em breve, perto de você.

 

BELEZA – TOP 3:

3º lugar: lencinho de bumbum com cheiro de sabonete. Afinal, você não quer denunciar que não se lava depois de… bem, você sabe o quê.

2º lugar: protetor solar com ativo anti-celulite. Se resolver no quesito anti-celulite, usarão até em dia de chuva.

1º lugar: esmalte que descasca por inteiro. O verdadeiro prazer não está em experimentar novas cores, mas em tirar o esmalte numa puxada só.

 

DOMISSANITÁRIOS – TOP 3:

3º lugar: mata-mosquito sustentável, do tipo que faz o mosquito ressuscitar de manhã quando você já estiver fora de casa.

2º lugar: amaciante de roupa em pedra, assim fica mais difícil diluir com água.

1º lugar: aromatizador de ambiente com cheiro de vômito para acabar de vez com a vontade de beliscar um doce em casa.

 

LAZER – TOP 3:

3º lugar: rede anti-social. Ela agrupa todos os seus contatos e lhes envia a mensagem “vão tomar no…”

2º lugar: cinema-0D, que é só a sala escurinha para você ter pelo menos um lugar onde dormir em paz na cidade.

1º lugar: parques indoor. Aqui é Curitiba, como que ninguém pensou nisso ainda?

 

SERVIÇOS FINANCEIROS – TOP 3:

3º lugar: programa de fidelidade para transporte público em que os pontos podem ser trocados por mais um ônibus em circulação.

2º lugar: Serasa-do-bem, um serviço que põe seu nome no Serasa toda vez que pagar um dívida, assim você nunca mais fará outras.

1º lugar: seguro proteção pós-eleições, em que você ganha um novo candidato caso venha a ficar doente com aquele que foi eleito.

Brasil, um país de marketeiros. Ou não.

Discordo veementemente que, no Brasil, todo mundo seja técnico de futebol. Isso pela simples evidência de que metade desta população não dá a mínima para zonas de rebaixamento, se o time jogou com garra, com coração ou com cartolas.

Você até pode argumentar que são milhares as mulheres que gostam de futebol – minha metade não é perfeita, eu sei. Mas a metade masculina também não é, pois sabemos que está cheio de homem que não liga para futebol. Noves fora, continuo com razão de que no Brasil não somos todos técnicos de futebol.

No lugar, creio que todo brasileiro é marketeiro. Marketing tem muito a ver com a nossa índole. Na real, marketear está em nossa genética.

Veja bem; não foram os portugueses quem primeiro venderam uma terra povoada por mihões de autóctones como sendo “descoberta” por Cabral? E que gênio criativo não seria Pero Vaz para valorizar a descoberta escrevendo aos seus clientes que “em se plantando tudo dá”?

Outra prova inconteste de nossa genética marketeira está na independência do Brasil. Nossos antepassados entendiam tanto da profissão que fico até emocionada. Diante da hesitação de D. Pedro I em proclamar a independência, eles vieram com imagens sedutoras: “Lá, você é um mero regente; aqui, o Imperador.” Até eu cairia nessa.

Há tantos cases semelhantes neste país!

A gente faz muito marketing – ou barulho de tambor, como querem aqueles que ironizam nosso dom. Não fico chateada de forma alguma com eles: há muito marketing de superfície por aí. Aquele tipo de marketing que, quando revelado, mostra um produto ralo, raso, insípido e pobrinho.

Marketing mesmo precisa ter pesquisa de mercado, benchmarking, business plan, planejamento de mídia, pesquisas de satisfação e pós-vendas. Se não tiver nada disso, vira mesmo barulho de tambor – uma pena.

Olhando por este ponto de vista, já começo ficar triste.

Pesquisa de mercado, brasileiro não faz: há pelo menos três países por aí que poderiam competir conosco ao título de “país do futuro”.

Benchmarking também não faz: fui ao cinema neste feriado e me lembrei que Dilma não foi a primeira mulher na posição mais poderosa num país.

Business plan nunca fez. Sobre este item, não preciso tecer comentários.

Planejamento de mídia; bem, isto brasileiro faz? Respondo: não faz. Até pode dar a impressão de fazer, mas não faz. Para fazer propaganda de si, não há país que não tenha sido visitado, não há verba que não tenha sido estourada. A opção “todas as mídias com não importa que dinheiro” não é planejamento de mídia.

Pesquisas de satisfação brasileiro até faz, mas não leva a sério. A Ficha Limpa demorou a cair, a Belo Monte continua feia.

Finalmente, pós-vendas é que não faz é mesmo! Ou você sabe a quem reclamar?

Pois é, fiquei deprimida. Minha tese desmoronou: não somos marketeiros. Somos, no máximo, batuqueiros.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A questão carioca, curitibana e paulistana do bar da piscina.

Dizem que todo carioca é igual. Numa caricatura, estão sempre falando palavrão pra cara%$&, arrumando algum ischquema e prontos pra cair no samba, no samba, no sambá.

Quem fala isso de carioca nunca deve ter visto um curitibano de perto. Se viu, com certeza não cumprimentou. Se cumprimentou, indubitavelmente conversa não teve.

Pré-conceitos são um saco, mas servem para prever como as pessoas reagiriam frente a um problema.

Neste domingo de Carnaval, por exemplo, tivemos um problema no clube: fazia um solzaço sobre nossa cachola, a piscina estava lotada, não existia nenhum guarda-sol fechado, nenhuma cadeira desocupada e a criançada toda brincava no toboagua. Domingo perfeito de verão, exceto que o bar da piscina estava fechado.

De repente, ao meu lado, um sujeito teve uma típica reação carioca:

- Cara&¨% de clube! Cheio de regrasch pra sóciosch e deixa eschtesch carasch do bar folgarem na po##& do feriado de Carnaval! Presidente de mer&*, devia tá aqui cuidando e deve eschtar lá na praia coçando a po$%% do saco dele!

A questão toda com este sujeito não é que ele não podia comprar uma cerveja pra tomar na piscina. Ele podia; era só ir até a lanchonete do clube. A “questã” é que, para ir até lá, ele precisaria se vestir. Como não era permitido circular fora da piscina em trajes de banho, ele estava louco da vida de ter que vestir “shorts”, camiseta e chinelo pra comprar uma cerveja “que deveria eschtar sendo vendida ali no bar da piscina maisch não eschtá!”

Aqui é que os preconceitos ajudariam muito ao carioca. Se ele tivesse parado pra pensar, perceberia que, apesar dos inéditos 30 graus, estava em solo curitibano. Apesar de ser Carnaval, estava num clube curitibano. E apesar de estar na piscina, ele estava na piscina de um clube curitibano com mais de cem anos de história. Se o carioca tivesse captado tudo isso, não teria ficado aborrecido ao ponto de xingar o presidente do clube, sua mãe e a mãe da mãe dele.

Ele teria percebido que, em Curitiba, não se sai de maiô pra fora da piscina. Isto não é normal. Não é normal andar de chinelo em shopping. Não é normal colocar bermuda pra sair à noite. Não é normal esperar no ponto de ônibus sem camisa. Não é normal ficar só de sunga por aí. Será que ele não entendeu por que o oil man virou uma celebridade local?

No final das contas, o funcionário do bar da piscina apareceu. Já era bem pra mais do horário do almoço, mas apareceu. O carioca pôde tomar sua cerveja e o curitibano não precisou encarar sua sunga.

Agora, você me pergunta, a mim, o que eu achei de toda esta história?

Olha, meu; eu penso que ali havia uma boa oportunidade de ganhar dinheiro. Se eu fosse o dono da lanchonete já implantava um sistema de delivery na piscina. Se eu fosse o presidente do clube já deixava sempre uns roupões à venda nos vestiários. E se eu fosse um investidor já tentaria pegar o ponto do bar da piscina pra mim.

Você sabe, pauli$tano é tudo igual..

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Uma história nojenta.

Quando Felipe-Augusto abriu uma das janelas de seu palácio novinho em folha – o Louvre –, o que ele sentiu não lhe agradou. Não lhe agradou nem um pouco: Paris fedia. Por causa desta cheirada, resolveu que a cidade receberia esgotos e que matadouros e peixarias deveriam ser realocados para um local mais afastado – Les Halles. Imagina-se também que ele deva ter proibido a abertura daquela janela por tempo indeterminado.

Pelos idos dos séculos XII e XIII, monarcas precisavam de medidas de fôlego para controlar coisas horripilantes como peste bubônica, cólera, difteria. Não devia ser fácil incutir aos franceses bons hábitos de higiene – jogar seus excrementos em qualquer outro lugar que não a rua, por exemplo – se todos imaginavam que lavar as mãos e tomar banho é que os matavam.

Nunca foi mentira que em Paris a gente comum não se banhava: eles não tinham acesso à água. Enquanto do outro lado do mediterrâneo os árabes já tinham inventado bombas d´água, o parisiense que quisesse tomar banho deveria ter dinheiro suficiente ou para morar no andar térreo ou para fazer subir e descer uma banheira cheia por alguns lances de escada até seu quarto.

Já a gente incomum, se não tomava banho, é porque tinha suas predileções. Napoleão rende uma história bem famosa de que, voltando a Paris, mandava dizer a sua Josefina que não tomasse banho. De certa forma, parece sensato que seu desterro tenha sido numa ilha.

À parte as preferências de Napoleão, foi por causa da maioria, desde Felipe, sentir muito nojo do fedor na cidade que boas coisas se desenvolveram por lá, a exemplo do primeiro sabonete líquido e de toda a indústria da perfumaria. Paris dá a medida do quanto o nojo pode ser um propulsor do desenvolvimento econômico.

Em Curitiba mesmo há fatos que comprovam a teoria.

Coisa de cinco anos atrás, podia-se ir a qualquer café ou lanchonete na cidade que limpar as mãos com guardanapos de papel era bastante fácil. Quando a mostarda escorria pelo punho ou no canto da boca, esticava-se o braço e apanhava-se um guardanapo bem no centro da mesa. Este era uma hábito simples, como devia ser simples, aos franceses medievais, levantar ou abaixar suas vestimentas – conforme fossem mulher ou homem – para se aliviar na calçada.

Então eis um oficial da vigilância sanitária curitibana que, vendo alguém puxar uma folha do porta-guardanapos, sente-se augustamente enojado. Ele nota, com repugnânica determinada, que a pessoa não tinha tocado apenas em uma, mas em pelo menos duas folhas antes de puxar a que efetivamente usaria para se limpar.

Neste exato momento, munindo-se da tradição milenar de que aquele que governa pode, o oficial decide que todo guardanapo em Curitiba deve vir encapado, seja em plástico, seja em papel. Foi uma decisão que abalou a vida das pessoas: nunca mais puderam limpar as mãos com facilidade. Uns não conseguiam rasgar os saquinhos plásticos; outros conseguiam à custa de se sujar mais ainda. Visionários ficaram irremediavelmente inconformados. “Será que ninguém nota quanto lixo extra se produz encapando os guardanapos?!”, pixaram nos muros da cidade. Houve por fim aqueles que resolveram solenemente protestar limpando as mãos na própria toalha da mesa.

Apesar das queixas, o hábito foi adotado por toda a cidade. Ao cabo, os cidadãos estavam conformados de que os guardanapos encapados eram muito mais higiênicos. Graças a sua medida, o tal oficial foi homenageado por ter melhorado as condições da saúde pública, sendo igualmente festejado por ter dado um impulso econômico ao setor do plástico na cidade.

Daqui dezenas de anos, quando Curitiba for celebrada como a cidade mais higiênica do país, historiadores poderão dizer – tal como disseram a respeito da construção da fulgural Paris – que tudo começou de uma forma bem nojenta.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O Zen de Encapar.

Todo mundo é unânime em dizer que trabalho manual dá paz. Das artes milenares da ikebana e origami às mais modernas do tricô e crochê, elas provam que o ditado deveria ser mudado para “quem mexe com a mãos, os males espanta do coração.”

De minha parte, NOT. Não há nada que seja manual – exceto escrever à mão numa imaculada folha branca – que me deixe zen. Há pessoas que levam jeito. Não me incluo no rol.

Jardinagem? Não, não é comigo. É só pegar uma mangueira para aguar o jardim que fico mais enrolada que ela.

Costurar? Também não. Sabe aquela coisa necessária de passar o fio pela agulha? Comigo dá nó.

Pintura? Vixi, piorou. Se dependesse de mim, a Suvinil ficaria no vermelho.

Amassar pão? Até vai, mas não espere engrandecimento meu nesta área tampouco.

Daí me aparece na lista de material escolar um aviso: “Os livros de caligrafia e inglês devem vir encapados. Os demais já possuem capas plásticas.”

Lascou-se!

Quando eu era pequena, ficava pasma de ver minha mãe encapando não um, mas uma dezena de livros nossos. Encapava também cadernos, não importa se fossem espiralados ou costurados. Uma verdadeira mestra no ofício. Minha mãe era tão boa na arte zen de encapar que conseguia fazê-lo até com aquele troço grudento, lazarento que se chama “contact”, sabe?

Se alguém consegue encapar um livro com contact é ninja. Definitivamente ninja.

Eu me armei de durex e plásticos transparentes. Eram apenas seis míseros livros.

O desastre começou logo no início, porque não consegui destacar o adesivo que amarrava o rolo plástico. Acabei cortando o adesivo e um pedaço do plástico junto. Apesar do fracasso inicial, dei-me uma desculpa: “Também, quem é o filho da mãe do gerente de marketing que descobriu que vende mais plástico fazendo com que o cliente corte metade dele só de abri-lo?!”

Passado o teste de abrir o rolo, envolvi o primeiro livro no plástico e notei – ah, sim! que sensação gostosa o plástico lisinho sob minhas mãos. Quase tive um êxtase e entendi que a gente realmente pode alcançar o zen nas coisas do dia-a-dia. Vai ver foi isso que estimulou minha mãe a encapar nossos livros por tantos anos letivos.

Êxtase fugaz, no entanto: fui cortar o plástico e não cortei reto. Fui puxar o durex e ele enrolou no meu dedo. Fui pregar o durex num lado da capa e encurtei o plástico no outro. Fui dobrar uma ponta e ela escapou.

Depois dos rounds regulamentares, venci: estavam os seis livros encapadíssimos. Passei a mão sobre eles e tive aquela sensação prazerosa das capas lisinhas. Um frêmito zen percorreu minha espinha.

Quando entreguei os livros aos meninos, eles me disseram: “Ah, mãe, não queria que encapasse.”

Bá pros dois!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Como apelidar em Curitiba.

Nos anos 90, a Unicamp era um cadinho linguístico. Numa aula em particular de fonética, tivemos a oportunidade de comparar algumas diferenças de sotaque in loco. Como havia alunos do nordeste ao sul em nossa sala, apenas a apreensão de um simples “a” rendeu inúmeras variantes.

Deve ter sido bem nesta época que me apaixonei por Linguística e abandonei amigos e melhores amigos de Letras para trilhar a aridez da ciência da linguagem. Nunca mais ouvi nada com os mesmos ouvidos.

É assim que, vindo morar em Curitiba apenas um ano depois de formada, notei um modus linguisticus local de apelidar as pessoas a partir do nome próprio. A coisa toda é muito engraçada para um ouvido “alhures”, sobretudo paulista como o meu.

Começou numa empresa em que trabalhei. A secretária se chamava Fernanda. Depois de algumas festas de confraternização, esta suprema representante do Diretor já estava íntima dos subordinados dele e então passamos a nos tratar comumente pelas iniciais de nossos nomes: ela era a Fê, eu era a Má. No mesmo departamento, ainda havia a Dri e o Má

Era assim que nos chamávamos. Tudo muito usual e comum no variante brasileiro.

Estranho foi quando notei como se escreviam estes apelidos. Num email vindo da Fernanda, não se lia na assinatura o esperado Fê, porém Fer. A Dri era Adri. Má era Mar. Mas este Má não dizia respeito a mim: eu era May.

Então apurei os tímpanos, porque se estavam escrevendo Fer, Adri, Mar e May estas pessoas não poderiam estar pronunciando Fê, Dri, Má e Má para se referir a mesma coisa.

E não estavam mesmo. Meu ouvido seletivo não percebeu toda a fonética daqueles apelidos. As pessoas falavam de fato Fer, com o erre no final; Adri, com o a átono no início; Mar com erre mesmo e – salve-me Saussure! –, May com um izinho no fim.

Pela primeira vez como bacharel em linguística eu via o fenômeno da hipercorreção dar o ar da graça em uma situação totalmente inédita para mim.

Se o nome se escreve Fernanda, reduzi-lo à primeira sílaba resulta em Fer e será com este “erre” no final que a dita cuja será chamada a partir de então. Se o fulano se chama Marcelo, seu apelido deverá ser Mar, ora bolas! Dri, para um nome que é Adriana, não pode funcionar. Pela lógica da hipercorreção, Adri é mais adequado.

De todos os exemplos que comecei a coletar, o mais surpreendente foi mesmo o que aconteceu com o meu nome. Depois de passar vinte anos da vida sendo chamada de Má - e por vezes acreditar que de fato o fosse -, Curitiba me resgatou para o May.

Não importa que meu “y” seja tônico: rebatizaram-me ditonga crescente. Seja porque seguiram a lógica de hipercorrigir pela escrita, seja porque olharam para meu sorriso e o acharam mais doce que vil, virei May.

Em todo o Brasil sou Má. Mas em Curitiba, esta gentil terra de apelidantes excêntricos, sou May.