quinta-feira, 26 de abril de 2012

Jornalistas e Escritores.

A impressão que se tem hoje em dia é que todo livro bacana – o cara que escreveu é jornalista. Isso deve dar uma inveja danada aos escritores. Habituados à profissão da escrita, aqueles percorrem equipados o terreno pedregoso que estes insistem em trilhar descalços.

Jornalistas têm mais têmpera, parece. Ou vai ver que é só treino mesmo. Trabalhar sob pressão não tem nada de nobre nem de saudável; mas é uma dieta que pode tornar a escrita elegante.

Tradutores também, eles são como jornalistas: estão lá fazendo a ponte. Certa vez compararam tradutores a obstetras e escritores a gestantes. Se a criança vier bem ao mundo, a mãe sorri para seu lindo bebê, enquanto o médico é que se torna requisitado.

Podem até requisitar a mãe mais uma ou duas vezes. Porém, há um limite. Claro que ninguém fala das mães sertanejas, que geram sete, oito, nove, dez, onze – já se viram doze filhos perfeitos! Só que até mesmo aí, ao lado de uma mãe forte, quantas vezes mais filhos não terá posto no mundo este obstetra acostumado a tanto trabalho duro?

Jornalistas não devem nada a obstetras. Um escritor tem suas dores – quantas dores! O que tem o jornalista? Tem empatia? Tem. Sofre? Por decerto sofre também. A diferença é que, ao passo que a mãe pare e depois fica toda absorta na sua cria, o obstetra está a caminho da próxima maternidade e sempre disponível para envolver enfermagem e residentes na história de mais um nascimento singular.

Se houver uma história singular a caminho – veja só: é um jornalista que a estará contando.

(Este text,o eu o escrevi para a seleção à Oficina de Jornalismo Literário com Sérgio Vilas-Boas. Aliás, a oficina foi super bacana!)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mentiras e Verdades do Trânsito.

Tirei a carteira de motorista aos 20 anos em Campinas, SP, quando ainda fazia faculdade. Depois que a recebi, providenciei uma gaveta bem funda e a deixei lá, mofando, por 18 anos.

Até que, com filhos pequenos, morando longe do trabalho, fazendo terapia e resolvendo assumir minha independência, voltei a dirigir aos 38 anos de idade. Entenda que a última vez em que eu tinha pegado numa direção foi no exame da auto-escola. Medo, pânico, receio, fobia, pré-ocupações, tudo que possa haver para eu não ter dirigido estes anos todos, tudo isto eu tinha.

Então estou dirigindo. Há exatos 7 meses, ando para baixo e para cima em Curitiba com meu carrinho automático (não dei conta da marcha manual, foi muito estressante).

Esta croniqueta é para dizer o que aprendi sobre o trânsito. Acho que uma pessoa, adulta, com filhos, que dirige pela (quase) primeira vez tem um olhar privilegiado sobre o trânsito. Vai aqui o meu:

 

  • O trânsito reflete a educação de um povo.
  • As pessoas não dão seta.
  • As pessoas passam com sinal vermelho.
  • As pessoas param em fila dupla.
  • As pessoas não respeitam a sinalização.
  • As pessoas odeiam respeitar limite de velocidade.
  • As pessoas até que buzinam pouco.
  • Os pedestres são imprudentes.
  • Os ciclistas são prudentes, mas cínicos.
  • Os motociclistas se dividem entre os prudentes e os kamikazes.
  • Há motoristas de ônibus gentis.
  • Idosos atravessam a rua sem olhar para os lados.
  • Há motoristas que guardam 1,5m de ciclistas.
  • Há curitibanos que dão a vez.
  • Não há fiscalização no trânsito, exceto para o EstaR.
  • Todo mundo que me corta acaba parando junto comigo no próximo semáforo.
  • Todo mundo que corre mais do que eu acaba chegando comigo no próximo semáforo.
  • Motoristas de táxis estão trabalhando.
  • Mães e pais na entrada e saída da escola estão em rota de colisão com você.
  • Há muitos cruzamentos que precisavam de semáforos em Curitiba.
  • Tem muito idiota falando ao celular enquanto dirige.
  • Motoristas tendem a ser cegos para faixas.
  • Você tem o direito de parar numa travessia preferencial de pedestre – isto não é errado!
  • Gentileza no trânsito gera gentileza.
  • As pessoas abrem a porta sem olhar se está vindo carro atrás.
  • As pessoas dão ré numa baliza sem olhar se está vindo carro atrás.
  • Apenas os imbecis fazem gracinha com carros de auto-escolas.
  • Os carros colam em sua traseira numa rampa.
  • Seta demais não engorda.
  • Abrir o vidro para pedir passagem sempre funciona.
  • Vidro com insufilm torna o trânsito hostil.
  • Há motoristas que vão numa boa atrás de seu carro que está a 40 por hora.
  • A rua não foi feita só para motoristas.
  • A rua é dos pedestres.
  • A rua é dos ciclistas.
  • A rua é dos motociclistas.
  • A rua é dos carrinhadores de mão.
  • A rua é dos motoristas.