domingo, 29 de janeiro de 2012

Sinfonia do supermercado em movimentos múltiplos.

Já se vão bem uns 16 anos quando eu sentava numa das carteiras da ESPM em Sampa e meu professor de “database marketing” enchia a boca para falar sobre as maravilhas que a internet faria às nossas vidas. A gente, que mal usava email e celular naqueles tempos, ficava realmente embasbacada com as possibilidades. Uma delas – a mais genial de todas – era fazer supermercado sem precisar sair de casa.

Por que deveríamos fazer supermercado sem sair de casa? Ora, vou lhe explicar:

1º Movimento:

Com o carrinho nas mãos, você tira o produto da prateleira e o coloca dentro do carrinho.

2º Movimento:

Na fila do caixa, você tira o produto do carrinho e o coloca em cima da esteira do caixa.

3º Movimento:

Na outra ponta da esteira, você tira o produto de cima dela e o coloca dentro do carrinho.

4º Movimento:

Já no estacionamento do supermercado, você tira o produto do carrinho de compras e o coloca dentro do porta-malas.

5º Movimento:

Em sua casa, você tira o produto de dentro do porta-malas e o coloca em cima da mesa da sala, da cozinha ou mesmo no chão.

6º Movimento:

Em frente à despensa, você tira o produto de cima da mesa e o guarda, finalmente, na prateleira do armário.

Para fazer toda a sinfonia do supermercado, multiplique estes seis movimentos básicos pelo número de produtos que você adquire a cada vez.

Sacou a genialidade de fazer a coisa inteira pela internet? O embasbacamento dura até hoje... Com toda a internet que temos, a experiência de fazer supermercado é offline mesmo e só tem de super o quanto exercitamos nossos braços para cima e para baixo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Não questione um vegetariano, aliás.

Não questione um vegetariano convicto a respeito de sua opção alimentar caso queira apenas provocá-lo: você poderá ouvir na mesma moeda, já que sempre haverá respostas estúpidas para entrelinhas idiotas.

Veja: perguntaram-me com aquela cara plácida “será que seus filhos serão vegetarianos daqui uns anos?”

Para esta pergunta, que na boca de uns é sincera e na boca de todos os demais é sarcástica, há quatro possibilidades de respostas:

A resposta que eu daria àqueles que amorosamente me questionassem - resposta bastante polida, aliás, é:

- Espero que o vegetarianismo seja um valor que eu tenha conseguido passar aos meus filhos, da mesma forma que pais e mães conseguem passar aos seus filhos os de não roubar e não matar.

A resposta que eu daria àqueles que me perguntam já tendo a réplica na ponta da língua, achando que são os primeiros a me confrontar sobre educação de filhos - uma resposta bem psicologizante, aliás, é:

- Espero que o vegetarianismo seja um valor que eu tenha conseguido passar aos meus filhos. É claro que, na adolescência, para se rebelarem e poderem se afirmar, eles possam querer comer carne. Mas sempre haverá a possibilidade deles retomarem o vegetarianismo quando esta fase passar, você sabe.

A resposta que eu daria àqueles que têm a tréplica na ponta da língua - resposta já um pouco cínica, aliás, é:

- Olhe, meu filho será vegetariano até quando ganhar idade para mentir a respeito do que come na rua.

Agora, a resposta que eu daria àqueles que não esperam ouvi-la, aliás, é:

- Olhe, meu filho será vegetariano até quando ganhar idade para mentir a respeito do que come na rua, que deve ser a mesma idade que seu filho terá quando lhe contar o que vai estudar na casa do amigo.

Certa vez, uma colega me perguntou, horrorizada, se eu não me sentiria culpada de não ter dado carne aos meus filhos quando eles tiverem idade para me questionar a respeito. Quase fazendo um gesto magnânimo, operístico, tive de lhe responder:

- Eu prefiro que eles me acusem de não ter lhes dado carne – porque comer carne é algo que eles sempre poderão escolher por conta própria depois de adultos – a que eles me acusem de não terem tido a chance de nunca comer carne na vida.

Portanto, não questione. Aliás, dica: ficar enchendo o saco de vegetariano sobre por que ele não come carne é tão inútil quanto discutir religião, política ou futebol.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sinfonia da cama em 12 movimentos.

No final de semana, meu marido me ajuda a arrumar a cama. É a ajuda mais bem vinda que recebo, ainda mais valorosa que lavar louça, tirar a mesa ou dar banho nas crianças. Já calculei: pra arrumar uma cama queen size, dependendo do nível de neurose que você tenha, é necessário circular à direita e à esquerda dela no mínimo doze vezes. Conte comigo:

No 1º movimento:

- Você retira os travesseiros da cama, retira sobrelençol e cobertores. Deixa a cama só no lençolzinho que você amarrota todos os dias. Daí você estica este lençolzinho.

No 2º movimento:

- Você vai pro outro lado da cama e estica o outro lado dele. Nesta de esticar um lado e depois o outro, você vai da cabeceira aos pés da cama apenas uma vez, mas se o elástico do lençol estiver frouxo, pode ser que ele escape numa puxada mais forte e daí, meu caro, você terá que fazer movimentos suplementares para enfiar o lado fujitivo pra debaixo do colchão.

No 3º movimento:

- No lado da cama em que parou, você pega o sobrelençol e o estende com aquele movimento grandioso que define a diferença entre você, um reles dorminhoco, e as camareiras de hotéis cinco estrelas, que conseguem fazer um lençol com 4 m2 cair centralizadinho no colchão. Como você é um reles dorminhoco, neste 3º movimento você alcança apenas ajeitar um dos lados do sobrelençol. Então…

No 4º movimento:

- Você anda pro outro lado da cama e acerta o restante do sobrelençol. É muito frequente, aqui, a sinfonia desandar. Motivos possíveis: pode ser que seu marido costume puxar o lençol pra ele. Então, pra minimizar os efeitos nocivos de dormir descoberta, você corre pro outro lado da cama e calcula deixar mais barra de sobrelençol pro seu lado. Outro possível motivo de desande, como disse acima, é o grau de sua neurose: se você gosta de cama arrumada como em vitrine de loja, poderá notar que o lado direito ficou mais comprido que o esquerdo e daí vai contar mais uns dois ou três movimentos até deixar tudo impecável.

No 5º movimento:

- Você vai colocar o cobertor por cima do sobrelençol. Mesmo gesto grandioso, mesma constatação que você jamais poderia ganhar a vida como camareira de hotel e finalmente o cobertor está quase arrumado sobre sua cama.

No 6º movimento:

- Você vai até o outro lado da cama e termina de esticar o cobertor. Aqui, todos os incidentes que ocorreram ao sobrelençol podem ocorrer ao cobertor. Cuidado, porém! Como o cobertor se move por cima do sobrelençol, poderá desarrumar este que está por baixo. Se isto ocorrer - bau-bau - sua sinfonia estará perdida, já que será necessário repetir tudo desde o movimento 3 – uma desolação.

No 7º movimento:

- Você pega a ponta do sobrelençol que sobrou na cabeceira e a vira por cima do cobertor. Tomara Deus que a marcação da dobra do viralençol tenha se ajustado corretamente à altura em que você deixou seu cobertor, senão você estará ferrado pra arrumar tudo de volta.

No 8º movimento:

- Você vai pro outro lado da cama e vira a outra ponta do sobrelençol por cima do cobertor. Frequentemente, um lado sai lindo-maravilhoso e, o outro, uma caca. Aqui você pode escolher duas opções: ocultar a caca jogando uma manta ou travesseiros por cima ou neurotizar de vez e repetir os movimentos desde o número 5 (se você for bom!) ou desde o número 3 (se você for desastroso no ato de retirar o cobertor de cima do sobrelençol). Sugestão: treine tirar uma toalha da mesa com a louça em cima. Se a louça não cair, você é um mestre e nunca mais fará um cobertor interferir na vida de um sobrelençol já esticado.

No 9º movimento:

- Você coloca os travessereiros de um lado da cama.

No 10º movimento:

- Você coloca os travesseiros do outro lado da cama.

“Mayra, aparte!”, você me interrompe. Respondo eu:

- Sim? – Ao que você:

“Eu coloco os travesseiros todos por um lado só.” E eu:

- Ah, seu safadinho, já aperfeiçoou a sua técnica, hein?!

No 11º movimento:

- Você vai até um lado dos pés da cama e enfia o excesso de cobertor que se arrasta no chão pra debaixo do colchão.

No 12º movimento:

- Você vai até o outro lado dos pés da cama e enfia aquele excesso também.

No 13º movimento… Ah, que bom, ele não existe:

Você está livre desta chateação de arrumar a cama. Pode se jogar em cima dela e, assim, já deixar armado o espetáculo pro dia seguinte.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Não critique, leia.

Chega esta época do ano e começa aquele monte de críticas contra um certo programa de televisão. Até um aplicativo para manter menções a este programa fora de nossos perfis em redes sociais apareceu.

De repente, o Big Brother Brasil passa a ser aquele-programa-que-não-deve-ser-nomeado. Coitado, até suas siglas o denunciam.

De minha parte, acho a coisa mais hipócrita ficar criticando o Big Brother. A primeira crítica é que o programa seria todo armado, cheio de esquemas para fazer vencer aquele candidato que a Globo quer tornar sua nova vaca leiteira. Mas quantos destes participantes realmente fizeram carreira artística na Globo depois? Malhação é um programa mais barato e muito mais eficaz para lançar new faces que o BBB. Então, use a lógica e dispense esta crítica.

Aliás, usei acima a expressão “vaca leiteira” porque ela vem do marketing. Não estou querendo criticar nas entrelinhas as moçoilas que aparecem no BBB. Todo mundo mete bronca no programa porque ele só faz é render capa de Playboy e VIP. No entanto, convenhamos: se a ideia é produzir um reality show só para vender revista de mulher pelada, estratégia cara esta, não? Os pânicos e os caldeirões da vida já dão conta de lançá-las no mercado todos os anos, aos montes, e de graça. A Playboy não precisa de um BBB para lucrar alto. Ela precisa que haja homens, compreende?

Também criticam o programa porque ele emburrece. Ah, esta crítica é que me deixa mais pasma. Emburrece? Então o que faz o futebol de toda quarta e todo santo domingo? Acaso enaltece? Não começou com um jogador de futebol a fama do Michel Teló? Por favor! Que programa de TV realmente enobrece? Aquela porcaria do CQC que conseguiu apenas produzir nerds que se acham engraçados falando mal de mulheres? Ou então os jornais televisivos que descobrem uma fraude em postos de gasolina sobre a qual o INMETRO já tinha conhecimento desde 2010? Que programa, realmente, melhora nossa inteligência?

TV é entretenimento. Se TV fosse sala de aula, ela se chamaria TV Senado ou TV Câmara, mas nenhuma das duas dá ibope no país.

O que este povo cabeça que critica o BBB está vendo? Canal pago? O que é cabeça suficiente para ser assistido neste país? Saia Justa? Diário do Olivier? Super Nanny? Caçador de Relíquias? Game Of Thrones? Roda VIva? Jornal das 10? As transmissões ao vivo do Rock in Rio?

Sinceramente! Quem critica muito o BBB deveria olhar para suas próprias escolhas. Não é este reality show que deve ser criticado, mas toda a indústria televisiva. Se quiser realmente fazer um boicote à programação, desligue a TV e leia. Vá ler. Daí, talvez, você fique informado sobre o projeto de lei que este governo quer aprovar obrigando que metade da programação de TV a cabo no Brasil seja nacional. Já pensou se isto começa a valer? Aí, sim, meu amigo e amiga azedos, o BBB será um oásis na programação, pode apostar.