A impressão que se tem hoje em dia é que todo livro bacana – o cara que escreveu é jornalista. Isso deve dar uma inveja danada aos escritores. Habituados à profissão da escrita, aqueles percorrem equipados o terreno pedregoso que estes insistem em trilhar descalços.
Jornalistas têm mais têmpera, parece. Ou vai ver que é só treino mesmo. Trabalhar sob pressão não tem nada de nobre nem de saudável; mas é uma dieta que pode tornar a escrita elegante.
Tradutores também, eles são como jornalistas: estão lá fazendo a ponte. Certa vez compararam tradutores a obstetras e escritores a gestantes. Se a criança vier bem ao mundo, a mãe sorri para seu lindo bebê, enquanto o médico é que se torna requisitado.
Podem até requisitar a mãe mais uma ou duas vezes. Porém, há um limite. Claro que ninguém fala das mães sertanejas, que geram sete, oito, nove, dez, onze – já se viram doze filhos perfeitos! Só que até mesmo aí, ao lado de uma mãe forte, quantas vezes mais filhos não terá posto no mundo este obstetra acostumado a tanto trabalho duro?
Jornalistas não devem nada a obstetras. Um escritor tem suas dores – quantas dores! O que tem o jornalista? Tem empatia? Tem. Sofre? Por decerto sofre também. A diferença é que, ao passo que a mãe pare e depois fica toda absorta na sua cria, o obstetra está a caminho da próxima maternidade e sempre disponível para envolver enfermagem e residentes na história de mais um nascimento singular.
Se houver uma história singular a caminho – veja só: é um jornalista que a estará contando.
(Este text,o eu o escrevi para a seleção à Oficina de Jornalismo Literário com Sérgio Vilas-Boas. Aliás, a oficina foi super bacana!)
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