Eu sou a consumidora das causas impopulares. Minhas recentes brigas são a demanda por mais táxis em Curitiba e a demanda contra reajuste escolar acima da inflação.
A impopularidade de minhas causas é que são coisa de gente, acham, rica. Popular que é popular só demanda aumento de salário-mínimo, demanda cotas em ProUni, demanda esgoto e asfalto no bairro, demanda creche em período integral, demanda prioridade no serviço do SUS, demanda congelamento na tarifa de ônibus.
Então, quando eu reclamo coisas a que a maior parte da população brasileira não tem acesso, me pecham de reacionária, direitista, fascista, nazista e coisas do gênero.
Não sou rica. Rico é Eike Batista, Abílio Diniz, Paulo Lemann, Marcel Telles. Gente assim. Graças às condições iniciais que meus pais me deram e graças sobretudo ao meu trabalho, sou classe média. Antes não fosse, porque classe média neste país sofre de duas doenças, uma mais perniciosa que a outra, que acabarão por matá-la antes de chegar à maturidade.
Sofre, primeiramente, de achar que não deve lutar por seus próprios direitos, porque já tem mais que os pobres. Pensa que, se reivindicar alguma coisa, estará reclamando de barriga-cheia, e que deve suportar tudo já que consegue pagar por escola, plano de saúde, financiamento habitacional e de automóvel.
Classe média tem que pedir desculpas à população por conseguir pagar.
Depois, a classe média detesta reclamar de preço. Detesta pedir desconto. Tem paúra de negociar. Só haverá de negociar se for para não ser chamada de otária, porque daí compartilha um trauma nacional, que passa indelével por todas as classes sociais: brasileiro odeia ser chamado de bobo. Se não for por isso, classe média prefere pagar no crédito a pedir desconto para não parecer que tem menos dinheiro.
No ano passado, quando compartilhei minha indignação junto a outros pais sobre o aumento abusivo da mensalidade da escola de nossos filhos, senti-me ferindo um código de honra, um código absurdo que me fez ter vergonha de não concordar em pagar o que a escola pedia. É como se eu estivesse dizendo a todos que não tenho a mesma condição financeira que eles e, dito isto, imediatamente eles se opuseram a mim porque não queriam se rebaixar a minha condição financeira.
Confuso? Sim. Os sentimentos da classe média são dúbios e é por isso que a última eleição presidencial ficou parecendo luta de classes (mas não era). A classe média, de um lado, apertada em seu orçamento doméstico, achando que reclamar era ser menos rica; e, de outro, a classe que prefiro chamar de “menos média” achando que a “mais média” era insensível à pobreza e miséria do país.
Desculpe-me a franqueza: direita e esquerda no Brasil - tudo é classe média. No mais, há o partido dos que nem sabe que elas existem e o daqueles que determinam qual delas ganhará as eleições. Neste debate, perpretado nos Orkuts, Twitters e Facebooks da vida, não havia ninguém realmente pobre falando por si: eram os “mais média” contra os “menos média”. Algo surreal.
Acredito que todos devemos reclamar. Classe média tem que brigar por aquilo que lhe afeta mais corriqueiramente, por que não? Se não brigar, ficará cada vez mais isolada, não podendo agir nem em causa própria, nem em causa alheia; em suma, não podendo agir pela causa de um Brasil de todos.
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Se você tem filhos em escola particular, largue mão de seus fantasmas e reclame contra o reajuste escolar acima da inflação. Assine a petição online que criei em:
http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N13771
Esta petição será entregue ao Sindicato das Escolas Particulares do Paraná como forma de mostrar que repudiamos a arbritariedade dos reajustes de valores. Está muito aquém do que civis podem fazer se de fato se organizarem, mas já é um primeiro passo. É imprescindível dar o primeiro passo.
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