Napoleão Bonaparte foi um cara amado e odiado em seu tempo. Substituiu a ambição religiosa pela glória militar no imaginário francês. Vendeu-se como o governante ideal aos anseios burgueses na França pos-revolucionária. E não foi só. Pilhando estátuas, quadros e manuscritos dos derrotados de suas batalhas pela Europa, engordou o Louvre a ponto dele se tornar o maior museu a sua época. Mas acabou desterrado. Quando reis eram decaptados, deve ter sido aliviante, a um imperador, ser apenas exilado.
Napoleão rende inúmeras piadinhas, das mais infames às mais inteligentes. Rendeu recentemente um livro em que tentarm enxergar naquele temperamento megalômano e criativo a excelência de um CEO de empresas multimilionárias. Mas está perdendo a fama. Se pergunto aos meus filhos qual era a cor do cavalo branco de Napoleão, eles acertam a resposta, mas vêm com a dúvida: quem era Napoleão, mamãe? Quando era eu com a idade deles, questionaria: é, mas já vi num livro um quadro dele montado em cavalo marrom.
Quase duzentos anos após sua morte, que apelo Napoleão poderia ter para a garotada?
Eu também acho que nenhum.
Mas então abro uma caixa de chicletes Mentos, que vem com o nome UP2U, em que o truque é, na mesma embalagem, você ter 7 unidades de chiclete sabor tutti-frutti mentolado e 7 chicletes sabor menta. Qual a jogada? Na dúvida entre um sabor e outro, leve os dois. Até aí, nada de mais. Um case banal de marketing.
Até que você se depara com uma citação de Bonaparte no interior da embalagem:
“Nada é mais difícil, e por isso mais precioso, do que ser capaz de decidir.”
Putz, perdi a vontade de mascar o chiclete. Não é possivel que precisem de tanto aval e gravidade para vender uma simples caixa de chiclete que, por si só, já é vendável em sua embalagem prata toda linda.
Fico pensando que raio de briefing deve ter gerado a necessidade dessa citação, que coordenador de comunicação ficou cavando o Google à noite para propor à sua gerente que propôs ao seu diretor que usassem a frase de Napoleão para apoiarem o novo lançamento. E fico imaginando o atendimento da agência recebendo o briefing e repassando a frase para o incrédulo diretor de criação, que se vira para o redator, que lê a frase escrita no papel, que reclama:
“Eu não escrevo esta campanha. Paguem royalties a Napoleão.”
Nada é mais ridículo do que quando o marketing quer emprestar gravidade àquilo que absolutamente não precisa ter.
Mas, no final, a campanha sai do mesmo jeito. Só fica o lamento por Napoleão, de novo alvo de piadinhas.
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