A Sociedade Vegetariana Brasileira conseguiu, nas suas palavras, “um apoio de peso” para a campanha Segunda Sem Carne: a chefe da Casa Civil, a ministra Gleisi Hoffmann.
A ministra, que é de Curitiba, já era vegetariana, mas não fazia alarde de sua dieta. Faz pouco mais de um ano que ela saiu da cidade para ser empossada em Brasília, e nem antes, nem durante – apenas agora, depois – resolveu fazer bandeira com uma causa que lhe é particular.
Nós, vegetarianos, estamos todos comemorando. Ou mais ou menos eu, porque o diacho da contemporaneidade é que tudo é complexo – nada, nunca, tem apenas prós ou apenas contras, mas prós e contras na mesma medida.
Quando Dilma era a ministra-chefe da Casa Civil, a Casa Civil era alguma coisa de importante. Que é a Casa Civil agora? Todo mundo sabe que entregar a Casa Civil a Gleisi foi um prêmio de consolação: o PAC tinha passado para a pasta do Ministério do Planejamento e o marido de Gleisi, contra expectativas, tinha ficado apenas com o Ministério das Comunicações.
É legal termos uma ministra vegetariana apoiando a Segunda Sem Carne. Decerto. Mas ela, na Casa Civil, é quase uma primeira-dama. Em termos de primeiras-damas, o Brasil – com exceção de D. Ruth Cardoso – nunca ganhou muito com elas.
As primeiras-damas, por aqui, sempre chamam mais atenção pelos seus disparates e futilidades – e temo que seu apoio à campanha, aos olhos de 91% dos brasileiros não-vegetarianos, soe esdrúxula.
Por outro lado, congratular a adesão de Gleisi é, indiretamente, bater palmas à política ambiental do PT. A Segunda Sem Carne é uma campanha essencialmente ecológica. Ela foi inspirada na campanha Meat Free Mondays de Paul McCartney.
As pessoas que têm aderido à campanha são, em sua maior parte, celebridades descomprometidas com política. As implicações políticas da campanha são graves e parece que os políticos preferem não se comprometer com elas.
Em Curitiba, quando a Segunda Sem Carne foi lançada dentro do Mercado Municipal, a prefeitura recebeu protestos dos açouges do Mercado. Isso quase levou a campanha à pique. Imagine então o que significa um político de “expressão” nacional apoiar a campanha? Ao invés de varejistas da carne, virão os importantes frigoríficos que apoiaram a eleição de Dilma, como o JBS, criticá-los.
A Segunda Sem Carne quer mostrar uma coisa só: parar de comer carne é a única solúvel viável, de médio prazo (no curto não há nenhuma), para conter a derrocada do meio-ambiente. Ela traz pras mãos dos cidadãos a decisão de fazer alguma coisa, já que, quando protestamos, o governo não nos ouve (ou Dilma teria vetado a totalidade do Código Florestal).
O receio é de que a camiseta da Segunda Sem Carne empunhada na foto de Gleisi esvazie a campanha do que ela tem de mais forte: a denúncia às políticas ambientais do governo federal que privilegiam latifundiários e grupos frigoríficos em vez da agricultura familiar e orgânica.
Gleisi segurando a camiseta da campanha é, por determinado viés, algo fútil. Transforma a campanha em uma coisa que celebridades fazem – afinal, eles estão sempre apoiando causas sociais porque não têm mais nada de importante pra fazer.
Apoio, apoio mesmo seria Gleisi dizer que é vegetariana e fazer o Brasil conhecer que a Amazônia é desmatada por causa da demanda por pasto e soja para alimentar o gado que financiou a campanha do PT nos últimos 10 anos.
Enquanto um político estiver no poder, segurar uma camiseta é o mínimo mais nefasto a uma causa que ele pode fazer.
escrito por Mayra Corrêa e Castro ® 2012
A minha opinião é só minha e não reflete a opinião da SVB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário