Não acho que vivamos uma ditadura da beleza. Afinal, feios não são caçados, nem trancafiados. Leio regularmente revistas de moda e sempre fico pasma de ver um monte de modelo feia posando de bonita. Também fico boba de ver editoras de moda bem feinhas bancando as gostosas. Não são delírios do photoshop, porque estas que vejo não ficariam nem mais um pouco menos feias com todo o photoshop disponível.
Acontece que são magras.
A ditadura que vivemos é a da magreza. Gordos, obesos, acimas do peso, cheinhos, fofinhos – estes, sim, estes estão sendo sumariamente perseguidos. Não existe tolerância com pessoas não-magras: elas devem emagrecer ou desaparecer. Nem saudáveis mais se acredita que possam ser: não-magros não devem existir.
Numa destas revistas, li reportagem sobre uma editora de moda não-magra que emagreceu. Fiquei triste. Quero dizer: fiquei alegre por ela, ela queria e conseguiu; mas fiquei triste, pois perdemos uma rebelde. Vi que elogiaram uma vencedora do American Idol porque ela secou. Fiquei feliz por ela, queriam e conseguiram; mas fiquei desapontada, foi mais uma baixa.
Então vem aquele comercial de sabonete elogiando mulheres reais, e nenhuma delas é: todas são magras, ou são não-magras sem barriga. Fico melancólica, porque todas se encaixam.
Aquele ditado que não existe mulher feia, o que existe é mulher sem dinheiro, conhece? Ele está incompleto: uma mulher gorda com dinheiro, jamais a acharão bonita, nem com toda a arrumação do mundo.
Olhe a sua volta e veja o que a mídia de moda faz: ela chama qualquer imbecil de interessante apenas porque a pessoa é magra. Se desenhar roupas ridículas, ela é um stylist interessante. Se desenhar móveis ridículos, ela é um designer interessante. Se não fizer nada na vida e tiver dinheiro, é uma it-person interessante. Se for não-magra, poderá ser um gênio, nem aparecerá na revista.
Apresentadores de TV também devem ser magros. Suspiro profundamente com o que fizeram àquela dupla e lamento mais o que a dupla fez à já tão combalida auto-estima das pessoas: junto com aqueles que compartilham que médicos são deuses, decretaram que não há estado não-magro saudável e que todos que não emagrecerem vão morrer em breve.
A loucura da magreza é tanta que site de seguro saúde e laboratório de análises clínicas traz calculadora de índice de massa corporal na home page. Parece que um IMC baixo vai nos livrar dos efeitos colaterais de toda esta porcaria que a indústria farmacêutica joga no mercado com anuência da ANVISA e autoridades médicas. Parece que perder peso é a única medicina preventiva, serve mais até que ser feliz. Se é que é possível alguém se achar feliz estando não-magro.
A única moralidade atual é ser magro. É por isso que aceitamos votar em políticos não-magros: porque é fato consumado que a política é o reino da imoralidade. Quando o brasileiro compactuar com a seriedade e a honestidade, nunca mais teremos presidentes cheinhos, pode escrever.
Certa vez eu li a notícia de um curso: “A verdadeira dieta da longevidade é a que faz restrições de calorias.” Me pareceu que minha teoria estivesse errada: não é a magreza nosso algoz. A magreza é apenas o laranja: nossa peçonha é a longevidade. Ninguém mais tem o direito de querer viver pouco. Com pouco, ainda vá lá, admite-se; mas muito.
Escrito por Mayra Corrêa e Castro, uma não-magra manequim 42.
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