Conto escrito por Mayra Corrêa e Castro
O filho vinha acordando com pesadelos. A mãe acudia:
- Foi pesadelo. Dorme.
O menino passou a acordar todas as noites. Ela teve uma ideia: ensiná-lo como não ter pesadelo.
- Junte os dedos assim. - O filho imitava. - Agora repita: "Não vou ter pesadelo”.
Da primeira vez, deu certo. O filho dormiu a noite toda. Deu certo na segunda vez, até que ele falou:
- Mãe, não tá dando certo. Continuo sonhando com lobisomem.
A mãe concluiu que tinha errado a técnica. Corrigindo, garantiu:
- Agora vai funcionar! - Juntou ela mesma os dedos polegar, indicador e médio, colocou a ponta dos três no centro da testa e disse: - Mamãe vai passar bons sonhos para o Luca. - Era Luca o nome de seu rebento. Encostando os dedos no centro na testa do filho, finalizou: - Tic, tic, tic.
O filho dormiu tranquilo. O mesmo aconteceu por noites seguidas. Aquilo tinha virado um hábito. Se a mãe esquecesse o “tic, tic”, o filho levantava vindo cobrá-la.
Certo dia, levando a ponta dos seus dedos à testa do filho, ele fez a pergunta:
- Mãe, você tá com este machucado na testa de tanto dar sonhos pra mim?
A mãe riu. Pareceu que seu filho a amava muito por se sentir tão preocupado.
- Não, Luca, este machucado foi mamãe que cutucou. - E foi se deitar rindo da imaginação das crianças.
Naquela noite, fazia muito calor. Ela dormiu mal, realmente mal. E teve pesadelos.
Na noite seguinte, o filho notou que o machucado da mãe ainda estava lá:
- Não sarou?
- Não, filho. Às vezes demora. - Nesta noite, ela teve novos pesadelos.
Ao cabo de um mês, como o filho a lembrasse do machucado que não sarava, ela ficou preocupada. Não dormia mais direito e o machucado tinha um aspecto grotesco. Para disfarçá-lo, havia deixado a franja crescer.
Luca percebia que sua mãe estava triste e quando vinha lhe dar boa noite, ela sempre brigava: - Preciso dormir!
O filho dirigia um olhar temeroso para a testa da mãe. Então resolveu: com toda a braveza de um menino que agora estava no 1º ano do ensino fundamental, disse à mãe:
- Hoje não precisa fazer “tic, tic”. - A mãe olhou desconfiada.
- Tem certeza? Depois não vai me acordar? - O moleque fez que sim.
Tereza dormiu; dormiu longas horas. Até sonhou que dormia.
O dia raiou. Tereza levantou da cama sentindo-se muito bem. Viu o filho:
- Bom dia! Dormiu bem?
- Não, mãe. Tive pesadelo. - Aflita, tomou Luca no colo.
- É por que não fiz o “tic, tic”? - Tereza estava cheia de culpa. Soltando-se dos braços da mãe, Luca respondeu:
- Eu que quis, mãe. Matei o lobisomem.
Indo se arrumar, Tereza tomou a escova para alisar a franja. Era uma hora difícil, pois mesmo um leve toque na ferida doía. Mas ela tinha feito a escova sem dor alguma. Por um breve momento, Tereza pensou se seria possível que...
Na escola, Luca preparava um cartão para o Dia das Mães. Ele tinha desenhado sua mãe e foi mostrar à professora.
- Luca - inquiriu a professora -, você desenhou sua mãe sem cabelo? - Ele levantou as sobrancelhas:
- Não é cabelo. É franja. Ela não tem mais franja.
Este conto foi enviado para o 4º Concurso de Contos das Livrarias Curitiba, edição 2012. Teve a limitação de 3 mil caracteres. Não foi selecionado.
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