Na hora do voto, ninguém – nem o mais esquerdista dos esquerdistas – pensa no outro. Todos pensam em si. Nem preciso gastar muito verbo pra explicar isso, mas vamos lá.
Você vota naquilo que crê. E a única coisa em que você realmente acredita é em si, nos seus valores e na sua criação.
Quando se vota, apenas aqueles dotados de espírito muito abnegado poderiam votar pensando no bem dos outros. Mas é um engano: quem vota achando que é para o bem dos outros na verdade está satisfazendo a um conceito de si como alguém que pensa no bem dos outros.
É por isso que acho duas coisas básicas a respeito de eleições:
- Só há votos hipócritas ou votos cínicos;
- Para votarmos melhor, todos deveríamos fazer psicoterapia.
A psicoterapia pode tirar a motivação de nossos votos do jugo da hipocrisia e transferi-la para o jugo do cinismo.
Mil vezes um cínico a um hipócrita! Um cínico pode ser levado à verdade, mas um hipócrita não. Um hipócrita se desvia da verdade, mas um cínico monta sobre ela.
É mais fácil lidar com um rico cínico que com um rico hipócrita; mais fácil lidar com um pobre cínico que com um pobre hipócrita. É mais rápido negociar com eleitor cínico, que com eleitor hipócrita; com político cínico, que com político hipócrita.
Quandos as motivações por trás de todo e qualquer voto forem terapeutizadas, estaremos no terreno amargo do cinismo. Cada um votará tão somente pensando si. Teremos tantos votos diferentes quantos forem os números de cínicos eleitores de um país. E como se instaurará algo impossível de ser feito – um governo que reflita um e cada um – teremos que aprender a pensar no outro.
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