Com assombro constato que já vivi dez Copas. Oito, pelo menos, com idade suficiente para saber o que se passava. E duas em que o Brasil foi campeão.
Do alto, portanto, das minhas dez Copas, digo: nenhum delas mudou nada, nem um tiquinho, nadica mesmo a minha vida.
Por certo renderam algumas lembranças – você me diria. Sim, renderam. Mas nenhuma lembrança que seja mais feliz que meu primeiro beijo, que o dia em que passei no vestibular; quando consegui o primeiro emprego, o segundo e finalmente o terceiro, mais desejado. Nenhuma que fosse tão intensa quanto recordar as vezes sem fim em que fiz amor com quem amo, ou o nascimento do meu filho mais velho, do filho mais novo. Nenhuma superou a lembrança da primeira cerveja que tomei com minha amiga de faculdade, o porre que tomei na sua festa de formatura, ou o quentão que tomamos na festa junina de nossos filhos.
O tetracampeonato, o penta – nada, não alterou em nada minha vida.
Por isso que sou tão indiferente à Copa. Patriota pouco me importa dizerem se sou ou não. Gerações antes de mim disseram que amaram o Brasil, gerações futuras dirão “eu te amo”. Sempre haverá quem o ame mais que eu, mas pagaremos ambos a mesma quantidade de impostos, trabalharemos ambos a mesma quantidade de horas, seremos enterrados na mesma terra. Nossos passaportes pedem os mesmos carimbos. Deixe-me recordar meus beijos, minhas noites de amor.
E quando, já mais velhos, lendo Quintana numa cadeira de balanço – depois de vinte Copas! – , diremos (sem contudo a delicadeza dele), “tudo isso passará; nós, cocô de passarinho.”
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