domingo, 29 de junho de 2014

Lemos quanto de 2007 pra 2011?

Fuçando mais detidamente os dados do relatório do Retratos da Leitura no Brasil 3, pesquisa publicada pelo Instituto Pró-Livro em agosto de 2012, achei dados muito desanimadores pra todos que amamos ler.

Fiz um resumão. Vá lendo:

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Tamo mal na fita: Sul perde em termos percentuais na quantidade de leitores pra todas as regiões do Brasil e, em números absolutos, estamos em antepenútimos. Isso porque somos a região menos desigualdade no país e com a população mais longeva.

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E estamos todos lendo menos apesar do governo federal comprar zilhões de livros pra escolares, programas de leitura e afins. Bão, bem bão. Um país se constrói mesmo com o quê? Homens e livros? Talvez homens e tablets...

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E este quadro é ótimo: autores e livros mais admirados pelos brasileiros de 2007 pra 2011: se não contei errado, apenas 3 mulheres entre 25 autores; e 4 livros escritos por mulheres, sendo apenas 1 deles por brasileira. É muito conveniente dizer que não existe literatura feminina.

O consolo é que 2 autoras sao de um sucesso estrondoso no mundo todo: Stepheni Meyer e J.K. Rowling.

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E algo no mínimo curioso: todo mundo diz que tá lendo menos porque não tem interesse por livros, mas todo mundo diz que lê por prazer. Fiquei confusa.

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Obviamente, lemos mais em casa. Porquê: faltam bibliotecas, no ônibus ou metrô não tem nem como segurar um livro, em consultórios só tem revista Caras velha ou aquelas chatíssimas tipo Bem Estar.

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E uma informação fofa: mamães!!! Somos nós, no pau a pau com professores, que influenciamos o que nossos filhos leem. Entao! É que nem comer verdura e fruta: se você não come, não adianta reclamar que seu filho só quer macarrão e batata-frita.

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Mais uma informação divina: ganhar livro de presente estimula o hábito de leitura, mas ninguém dá livro de presente. Pronto! Já sabem o que dar no próximo aniversário, né?!

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Mais uma: o jeito mais comum de ler um livro é comprando um, mas ninguém compra porque é caro, e ninguém tampouco frequenta bibliotecas públicas. Agora, por que não frequenta eu sei: porque elas emendam o feriado quando todo o comércio em volta tá aberto.

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E na lanterninha, o Sul é a região onde se vai menos a bibliotecas. Eita.

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E nem podemos dizer que a culpa de tão pouca leitura é da internet. Lê-se pouco porque se lê pouco mesmo. Livros digitais? Quê? Existem?

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E apesar do auê em torno deles, os brasileiros acreditam mesmo é no livro de papel (mas que também não leem).
Resumo da ópera: livro que é bom, num Brasil de todos, por enquanto, é realidade que ainda não saiu do papel.

 

escrito por Mayra Corrêa e Castro © 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

De como melhorar o voto.

Na hora do voto, ninguém – nem o mais esquerdista dos esquerdistas – pensa no outro. Todos pensam em si. Nem preciso gastar muito verbo pra explicar isso, mas vamos lá.

Você vota naquilo que crê. E a única coisa em que você realmente acredita é em si, nos seus valores e na sua criação.

Quando se vota, apenas aqueles dotados de espírito muito abnegado poderiam votar pensando no bem dos outros. Mas é um engano: quem vota achando que é para o bem dos outros na verdade está satisfazendo a um conceito de si como alguém que pensa no bem dos outros.

É por isso que acho duas coisas básicas a respeito de eleições:

- Só há votos hipócritas ou votos cínicos;

- Para votarmos melhor, todos deveríamos fazer psicoterapia.

A psicoterapia pode tirar a motivação de nossos votos do jugo da hipocrisia e transferi-la para o jugo do cinismo.

Mil vezes um cínico a um hipócrita! Um cínico pode ser levado à verdade, mas um hipócrita não. Um hipócrita se desvia da verdade, mas um cínico monta sobre ela.

É mais fácil lidar com um rico cínico que com um rico hipócrita; mais fácil lidar com um pobre cínico que com um pobre hipócrita. É mais rápido negociar com eleitor cínico, que com eleitor hipócrita; com político cínico, que com político hipócrita.

Quandos as motivações por trás de todo e qualquer voto forem terapeutizadas, estaremos no terreno amargo do cinismo. Cada um votará tão somente pensando si. Teremos tantos votos diferentes quantos forem os números de cínicos eleitores de um país. E como se instaurará algo impossível de ser feito – um governo que reflita um e cada um – teremos que aprender a pensar no outro.

A Copa passará

Com assombro constato que já vivi dez Copas. Oito, pelo menos, com idade suficiente para saber o que se passava. E duas em que o Brasil foi campeão.

Do alto, portanto, das minhas dez Copas, digo: nenhum delas mudou nada, nem um tiquinho, nadica mesmo a minha vida.

Por certo renderam algumas lembranças – você me diria. Sim, renderam. Mas nenhuma lembrança que seja mais feliz que meu primeiro beijo, que o dia em que passei no vestibular; quando consegui o primeiro emprego, o segundo e finalmente o terceiro, mais desejado. Nenhuma que fosse tão intensa quanto recordar as vezes sem fim em que fiz amor com quem amo, ou o nascimento do meu filho mais velho, do filho mais novo. Nenhuma superou a lembrança da primeira cerveja que tomei com minha amiga de faculdade, o porre que tomei na sua festa de formatura, ou o quentão que tomamos na festa junina de nossos filhos.

O tetracampeonato, o penta – nada, não alterou em nada minha vida.

Por isso que sou tão indiferente à Copa. Patriota pouco me importa dizerem se sou ou não. Gerações antes de mim disseram que amaram o Brasil, gerações futuras dirão “eu te amo”. Sempre haverá quem o ame mais que eu, mas pagaremos ambos a mesma quantidade de impostos, trabalharemos ambos a mesma quantidade de horas, seremos enterrados na mesma terra. Nossos passaportes pedem os mesmos carimbos. Deixe-me recordar meus beijos, minhas noites de amor.

E quando, já mais velhos, lendo Quintana numa cadeira de balanço – depois de vinte Copas! – ,  diremos (sem contudo a delicadeza dele), “tudo isso passará; nós, cocô de passarinho.”

Versinho de São João

 

Amo festa junina,

desde miudinha.

Quadrilha, pinhão com sal,

amo mais que carnaval.

É que sou caipira pira pora;

meu samba, moda de viola.