segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Não questione um vegetariano, aliás.

Não questione um vegetariano convicto a respeito de sua opção alimentar caso queira apenas provocá-lo: você poderá ouvir na mesma moeda, já que sempre haverá respostas estúpidas para entrelinhas idiotas.

Veja: perguntaram-me com aquela cara plácida “será que seus filhos serão vegetarianos daqui uns anos?”

Para esta pergunta, que na boca de uns é sincera e na boca de todos os demais é sarcástica, há quatro possibilidades de respostas:

A resposta que eu daria àqueles que amorosamente me questionassem - resposta bastante polida, aliás, é:

- Espero que o vegetarianismo seja um valor que eu tenha conseguido passar aos meus filhos, da mesma forma que pais e mães conseguem passar aos seus filhos os de não roubar e não matar.

A resposta que eu daria àqueles que me perguntam já tendo a réplica na ponta da língua, achando que são os primeiros a me confrontar sobre educação de filhos - uma resposta bem psicologizante, aliás, é:

- Espero que o vegetarianismo seja um valor que eu tenha conseguido passar aos meus filhos. É claro que, na adolescência, para se rebelarem e poderem se afirmar, eles possam querer comer carne. Mas sempre haverá a possibilidade deles retomarem o vegetarianismo quando esta fase passar, você sabe.

A resposta que eu daria àqueles que têm a tréplica na ponta da língua - resposta já um pouco cínica, aliás, é:

- Olhe, meu filho será vegetariano até quando ganhar idade para mentir a respeito do que come na rua.

Agora, a resposta que eu daria àqueles que não esperam ouvi-la, aliás, é:

- Olhe, meu filho será vegetariano até quando ganhar idade para mentir a respeito do que come na rua, que deve ser a mesma idade que seu filho terá quando lhe contar o que vai estudar na casa do amigo.

Certa vez, uma colega me perguntou, horrorizada, se eu não me sentiria culpada de não ter dado carne aos meus filhos quando eles tiverem idade para me questionar a respeito. Quase fazendo um gesto magnânimo, operístico, tive de lhe responder:

- Eu prefiro que eles me acusem de não ter lhes dado carne – porque comer carne é algo que eles sempre poderão escolher por conta própria depois de adultos – a que eles me acusem de não terem tido a chance de nunca comer carne na vida.

Portanto, não questione. Aliás, dica: ficar enchendo o saco de vegetariano sobre por que ele não come carne é tão inútil quanto discutir religião, política ou futebol.

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