Em 05 de abril de 1993, o jornalista Daniel Piza entrevistava o pintor Iberê Camargo para a Folha de São Paulo. Falecido aos 79 um ano depois, o artista deixou um acervo de mais de 7 mil obras e era considerado, por muitos, o “maior pintor brasileiro vivo”.
Na entrevista, Daniel Piza menciona o epíteto, indiretamente perguntando se o pintor queria ter seu lugar na história. A resposta de Iberê colocou um ponto final na questão:
“O Brasil não anima ninguém. Enquanto conversamos, o rio Guaíba aqui fora está virando um córrego miserável, sujo, e ninguém faz nada. Eu estou na luta, é só.” (in: Perfis & Entrevistas de Daniel Piza, Editora Contexto, 2004)
Na sequência da entrevista, Iberê ainda declarou que o Brasil era um gigante com cabeça de galinha, lamentando o fato de que uma série que tinha pintado para arrecadar fundos para portadores de HIV não ter vendido bem.
De minha parte, acho que nada mudou muito de 93 para cá. Lamentavelmente, a única coisa que conseguimos enxergar com a estabilidade da moeda e o crescimento econômico foi a possibilidade de comprar mais e ganhar mais.
Já disse a alguns amigos que a pior lição dos últimos governos é que eles ensinaram, pelo exemplo, que é indiscutível termos direitos, mas é uma idiotice ter deveres. No século XXI brasileiro, pode-se sempre mais, nunca menos.
Abro meu blog de crônicas para a série “O Brasil não anima ninguém” em que vou escrever sobre assuntos que mostram que, em se tratando do governo e de seus fornecedores, Iberê Camargo continua tendo razão. O Brasil virou um país sem subtrações.
Iberê, também estou na luta.
escrito por Mayra Corrêa e Castro ® 2012
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