20 de Março – Dia Mundial Sem Carne
Vegetarianismo – a nova bandeira de nossos filhos
Olá, Namaste.
Faz bastante tempo que quero escrever sobre isso, mas sempre tive receio de ser mal interpretada. Como em breve, nos dias 20 e 21 de março, ativistas veganos no mundo inteiro sairão na rua para comemorar o Dia Mundial Sem Carne, achei que a data seria oportuna para este texto.
Desde 2007, quando comecei a participar do movimento curitibano da Sociedade Vegetariana Brasileira, fiquei surpresa com a quantidade de jovens vegans presentes nas atividades organizadas por nós. E estou falando de jovens mesmo, entre a casa dos 15 e 25 anos.
Quando eu mesma me tornei vegetariana, há anos atrás, foi difícil ter a compreensão dos familiares e dos amigos. Quando tive filhos - e eles são vegetarianos desde a concepção – foi ainda mais difícil, inclusive de mostrar ao obstetra e ao pediatra que meus meninos poderiam ter um desenvolvimento normal e saudável sem carne. Ainda hoje, em minha transição para o veganismo, encontro desinformações, hábitos arraigados e preconceitos que dificultam esta tomada de decisão. Não é fácil levantar qualquer bandeira que seja, ainda mais uma que derrube noções tão arraigadas como estas de que o ser humano precisa comer carne e que tem direito sobre a vida dos animais.
Porém, tenho 35 anos, sou adulta e respondo pelos meus atos. Recebo críticas, mas a idade nos ajuda a lidar com elas. Por isso é que olho com tanta admiração para esta garotada que está se tornando vegetariana em tenra idade, e ainda sob a tutela dos pais. Eles são tão novos e estão se levantando contra a cultura do churrasco, a cultura do fast-food, contra a indústria de pele e couro, contra a indústria farmacêutica e de cosmética que usa cobaias animais. Estão se rebelando contra milhares de anos em que ter carne para comer é sinal de saúde, de fartura e de tempos bons.
Veja, não quero incitar celeumas familiares. O que quero é tão apenas mostrar minha própria experiência: se seu filho se tornar vegetariano, isto não quer dizer que ele entrou para uma seita ou que deixou de amá-lo.
Significa apenas que ele vive num mundo ameaçado pelo aquecimento global e sabe que a criação de gado responde não apenas com 18% da emissão de metano na atmosfera, mas que também corresponde pela devastação das florestas e pela disseminação da soja transgênica.
Significa que ele sabe que a humanidade não vive tempos de escassez de alimentos, mas que o vegetarianismo não apenas dá conta de alimentar toda a população do planeta, como torna as áreas mais pobres autônomas na produção de sua própria comida.
Significa que ele sabe que a ciência já chegou em um estágio de desenvolvimento que não precisa mais usar a vida de animais indefesos para testas seus produtos e nos mostrou que, embora estes animais não possam falar como nós, eles podem sentir, e sofrer, e que criam elos entre si e conosco.
Aliás, seu filho, que não foi criado numa fazenda vendo o abate de uma galinha ou de um porco para a janta de domingo, fica horrorizado de saber que o nugget que ele comeu é feito da carne de uma galinha que foi morta. A única galinha que ele conhece é aquela do desenho Fuga das Galinhas e sua sensibilidade enxerga como crueldade tanto matar uma galinha, quanto matar seu cachorrinho de estimação.
Nossos filhos terão, aliás, eles tem uma outra sensibilidade. E que bom que tem!
Se não fosse por uma sensibilidade nova, os jovens que gritaram contra a escravidão no século XIX não teriam conseguido criar um mundo onde todos os homens nascem livres. Se não fosse por uma nova sensibilidade, os jovens não teriam gritado contra a Guerra do Vietnã e ainda hoje acharíamos natural mandar nossos filhos para a guerra.
Quero crer que essa garotada nos está conduzindo através de sua nova sensibilidade rumo à libertação dos animais. E, como nossa era é a da informação, não podemos ingenuamente supor que eles não sabem o que estão fazendo e que estão pondo em risco sua própria saúde.
Na verdade, porque são informados é que estão urgentemente divulgando o vegetarianismo, mostrando que esta é a opção mais sensata e que mais rapidamente pode reverter a derrocada ecológica de nosso planeta.
Eles também são responsáveis e corajosos, porque estão assumindo a árdua responsabilidade de cuidar da vida de bilhões de seres vivos conscientes que não podem falar por si mas, se falassem, diriam que querem apenas viver em paz e com liberdade.
Por tudo isso, neste Dia Mundial Sem Carne, dê uma olhada por aí para ver que bandeira é esta que nossos filhos estão levantando. Haverá manifestações no mundo inteiro e aqui em Curitiba também. E eles estarão comemorando o dia com muita salada, muitos legumes, muitos grãos germinados, cozidos integrais e sucos de frutas. Você até pode achar que são apenas rebeldes, mas é inegável que são mais saudáveis, e sensíveis, e que levantam uma bandeira, novamente, de paz e amor.
Go vegan!
Com muito respeito, Mayra C. Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário