Coisa interessante: certa vez, em Londrina, um de nossos alunos nos perguntou se usávamos jeans.
Anos mais tarde, aqui em Curitiba, outro nos perguntou se ficávamos gripados.
Também me lembro de terem nos perguntado se freqüentávamos cinema.
Diantes destas perguntas, eu ri, porque me lembrei daquelas que eu fazia quando criança: mãe, o Papa faz cocô? Mãe, a Xuxa faz xixi?
Não sei como eu, instrutora de yoga, passei esta imagem de que o prosaico da vida não me pertence...
Quando a gente vai em médico, nunca acha que médico adoece. Quando a gente vai a restaurante, nunca imagina que o chef come fast-food. Quando a gente vai em massagista, nunca acha que ele tem dores nas costas. Lêdo engano. Eu já mencionei há um post atrás aquele "mardito" dito popular que "em casa de ferreiro, espeto é de pau". Pois é...
O yoga é ma-ra-vi-lho-so. Depois que comecei a praticá-lo e adotá-lo em minha vida, continuei fazendo tudo que fazia antes, usando calça jeans, pegando gripe e indo ao cinema. Fazendo cocô e xixi também. Continuei humana tal e qual. Nenhum super-poder me foi acrescentado.
Acho que o yoga muda nossa condição, porém, mais nítida e rapidamente, muda é a nossa percepção. O que acho que mudou depois do yoga é a consciência de optar por fazer isso ou aquilo e de assumir as conseqüências da opção pior. Penso que a mudança, com o yoga, não atinge tanto aquilo que fazemos quanto o como fazemos aquilo.
Como nos alimentamos. Eu me tornei vegetariana, cuido muito mais da alimentação, cozinho minha própria comida e da minha família. Mas continuo comendo pizza vez por outra. A diferença é que, agora, seleciono a pizzaria com critérios diferentes e sempre peço pouco queijo.
Parece-me que, com o yoga e o vegetarianismo, fiquei mais sensível a certos tipos de alimentos e a como são preparados, tolerando-os bem menos que antes. Por conta disso, agora sei diferenciar quando o desejo de comer pizza é carência nutricional (nunca é) ou carência emocional, pelo que o ritual da pizza representa, com os amigos em volta, ou com a família em momento de descontração. Sabendo disso, posso optar por pedir uma pizza pronta ou posso eu mesma preparar a minha, usando farinha integral, colocando belos legumes por cima, com molho de tomate fresco e orgânico, usando nada ou só um pouquinho de queijo. Viu?
Como você se veste. Continuo usando calça jeans, mas incluí todo o arco-íris no meu guarda-roupa que, antes, habituado a hábitos de escritório, era basicamente P&B (preto&branco). Como o yoga me tornou mais auto-confiante e mais em paz com meu próprio corpo, hoje uso coisas que na adolescência não usava de jeito nenhum, como calças de algodão. E se descarto mais vezes o jeans, é porque fico feliz de usar aquelas de algodão que não usava antes.
Como você se diverte. Tirante o fato de que nunca gostei de baladas, ambiente com fumaça de cigarro, bebida alcóolica e música alta, continuo me divertindo igual que antes. Não foi o yoga que me excluiu da cena social, foram as atribuições de mãe com filhos pequenos. (Mas agora estou voltando ao cinema, feliz da vida de assistir desenho animado com o meu mais velho. E a vantagem de não ter ido ao cinema durante meses a fio é que a gente chega na locadora e todas as prateleiras nos parecem de lançamentos.)
Como você fica doente. Ah, nunca mais ficar doente. Esta foi a nobre motivação que tive quando busquei o yoga pela primeiríssima vez. Não dá pra dizer que minha saúde tenha melhorado, porque sou jovem, mas eu era daquelas que tinham medo de doença. Só que travalhava 10-12 horas por dia, final de semana inclusive. Workaholic total. Só stress. Com certeza, se eu não começasse a fazer yoga naquele momento, ficaria ruim mesmo.
Mas hoje, quando pego um resfriado, ele é mais rápido ou mais leve. E quando é mais forte, que vez em quando acontece, tem causa e motivo, tem tese-antitese-síntese, tem resposta, réplica e tréplica.
Acho que adoecer, depois do yoga, tornou-se um exercício de auto-conhecimento. Por que estas dores nas costas? Por que esta pressão alta? Por que esta dor de cabeça? Por que este torcicolo? E também acho, meu marido psicólogo idem, que quando a gente se aventura na senda do auto-conhecimento, até tem mais piripaque que os outros, porque mexer com os tais conteúdos internos inconscientes é campo-minado pra somatização.
Instrutor de yoga é ser humano. Iluminados, completamente iluminados, não conheço nenhum, só de literatura, e não saberia dizer se estes são super no sentido super-heróico do termo. Mas provavelmente são supers em todos os outros sentidos prosaicos da vida. Super-gentis, super-amorosos, super-verdadeiros, super-íntegros, super-generosos e por aí a fora. Sacou?
A gente se vê num cinema. Namaste. Mayra
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